No caminho

Vínhamos caminhando pela estrada de terra em um fim de tarde de inverno. A poeira era fina e seca e quando fizemos a curva lá estava ela. Formosa, plena com um banco ao lado nos convidando para sentar.

Ela não parecia incomodada com nada. Nós, vindas da cidade sentíamos o cabelo grudado e o pó impregnado no rosto em uma sensação gratificante pelo véu de terra vermelha que nos vestia como um tecido fino nos tirando todas as marcas daquilo que precisávamos deixar de ser.

Demos uma volta nela. Respiramos fundo, tocamos seu corpo de mais de 400 de anos. Nós, ficamos ali admirando, sua capacidade de esplendor em plena solidão. A sua volta soja e cana. Pasto e um horizonte imenso sem nenhum par, sem nenhuma companhia aparente.  Mas, de alguma forma suas raízes longas e extensas provavelmente chegavam ao riacho há um quilômetro dali e se juntavam com as outras árvores jovens que ao redor da água tinham uma vida mais fresca.

Nos mitos e nos contos em geral, árvores como essa são conselheiras de profunda sabedoria. Elas encorajam o herói ou a heroína a seguirem suas jornadas, sem titubear. Elas sabem tudo aquilo que precisamos aprender sobre fortes tempestades, sobre solidão e solitude, sobre ventos furiosos e brisas, sobre destinos, sobre recolhimento e iluminação.

A medida que despertamos nossa criança criativa nos tornamos adultos responsáveis pelo nosso próprio maravilhamento com a existência e somos capazes de compreender que os mitos e contos apenas nos dizem o que podemos experimentar, para ouvir vozes que jamais imaginamos existir, de seres que não possuem a nossa linguagem mas possuem sua própria e tem muito a nos ensinar.

Aquele dia, Ela disse para cada uma de nós mensagens únicas e especificas para seguirmos nossas jornadas, irmos em frente, encararmos nossos desafios, sermos o que somos e acreditarmos que não importa a poeira, a tempestade, a ventania se pudermos ser nós mesmas e ao ser sombra fresca para quem vem ao nosso encontro.

Seguimos caminhando. O inverno vem chegando de novo e se caminharmos por essa estrada talvez ela siga lá, talvez ela já tenha ido embora, mas o que importa é termos feito do nosso encontro um instante de inspiração para renovarmos para aquele ciclo.

A Vivência das Árvores é um momento de encontro com essas árvores que nos habitam e nos sustentam a preservar aquilo que não pode morrer, aquilo que vamos carregar para os próximos ciclos e cada um deles teremos a escolha permanente e diária de escolher diferente.